terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sacanas e sábias palavras

Jorge Luiz da Silva Alves






    


      
Palavras marotas!
          
Visto-as como se fosse domingo de missa,
         
espero que elas se comportem
          
mas, qual! As danadas aprontam
          
e me surpreendem.
          
Da vida dos outros, elas me revelam
          
e apuram, sem pudores, o escrutínio das almas.
          
Da charmosa indefinição das mulheres
           
elas me confessam: “É grupo!”
           
E das bravatas masculinas, transcritas para folha
           
desnudam-se cães
           
que só ladram e uivam
            
justamente por escassez de palavras.
            
Lutar com palavras, como diria Drummond,
            
é a luta mais vã;
             
mas, vinda a manhã, estou derrotado.
        Pois sou bom de boca p'rá beber:
                                     “Por favor, não tens aí um trago do teu imenso saber?” 
                                        Dispenso estilos, ignoro os ritmos, 
                          pois só cuido de palavras nesta creche que sejam órfãs 
                                         de pai, mãe, PALOP's ou ONG's:
                               não estou atrás das filhinhas d'Aurélio
                                      ou das sobrinhas do Pasquale Cipro Neto! 
                                     Quero frases putas, declarações vadias,
                                              pronominais porras-loucas  
                                   e as hippies fedorentas de baixo calão. 
                                        Pois delas, serão o Reino dos Céus, 
                                                  creiam-me! Ou não. 
                          Só preciso mesmo é que minhas palavrinhas gostem de mim... 
                             pois, delas, cuido com esmero e operância
                                          mesmo que, filhadaputamente, 
                                          elas me abandonem na hora 
                                                em que mais preciso: 
                          quando a cabeça de baixo e o coração de dentro 
                                              traduzem-me, impiedosamente...

7 comentários:

  1. Quando a cabeça de baixo não pensa, as palavras somem...
    Melhor seria não ter cabeça.
    Melhor seria ter somente palavras.
    Melhor seria nem ter o que falar!
    Melhor seria...
    Apenas tomar um trago alí, na esquina e sucumbir-se em sua própria embriaguês; melhor seria!
    Melhor seria não ser, apenas ter!
    Uma cabeça para pensar e agir...melhor seria!
    Melhor seria nem ter intelecto mas,qual?
    Melhor seria nem ser.
    Melhor seria vadiar a noite toda e ronronar!
    Para ter o prazer de somente, amar!

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  2. eu estou aqui aplaudindo esta enxurrada de palavras!!!Que palavras maravilhosas juntaste aqui!grande abraço

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  3. Mande esta modéstia às favas, meu amigo. Você é como um guardião e elas lhe servem à hora que desejar. E nos servem para deleite. Fantástico, amigão!

    Li um pequeno diálogo de Drummond com Guimarães Rosa e me lembrei de você. Claro que sua escrita é diferente da dele, mas o que importa é sua infinita e adorável capacidade criativa como o Rosa. (1961, O OBSERVADOR NO ESCRITÓRIO)

    Ele para Drummond:
    - Não quero ser classificado como escritor de determinado tipo. Procuro variar o mais possível de técnica e gênero...

    - A lingua portuguesa ficou completamente estragada pelo uso, meu caro. Suas belezas se transformaram em lugares comuns. Por isso não posso mais usá-la como fazem os outros.

    Abração. Paz e bem.

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  4. ...pois eu adoro quando as palavras "filhadaputamente" se calam e só fala o coração. Aí, e só aí, as grandes verdades são ditas. Beijos saudosos...

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  5. Palavras marotas, orfãs, traidoras, palavrinhas que gostem de ti? Pois elas gostam tanto que se juntaram neste fantástico texto, só para dizer que o Jorge é o melhor amigo delas e que as trata com tanto zêlo, que elas jamais o deixarão, mesmo que em alguns momentos elas "filhadaputamente" se calem.
    Meu queridíssimo amigo, este texto é simplesmente admirável.
    Um beijo

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  6. Como é gostoso ler você, Jorge... rs Você é terrível e fantástico! Uau! "quando a cabeça de baixo e o coração de dentro traduzem-me, impiedosamente..."

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  7. vim ler de novo...fihadaputamente só você consegue rsrs

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