Palavras marotas!
Visto-as como se fosse domingo de missa,
espero que elas se comportem
mas, qual! As danadas aprontam
e me surpreendem.
Da vida dos outros, elas me revelam
e apuram, sem pudores, o escrutínio das almas.
Da charmosa indefinição das mulheres
elas me confessam: “É grupo!”
E das bravatas masculinas, transcritas para folha
desnudam-se cães
que só ladram e uivam
justamente por escassez de palavras.
Lutar com palavras, como diria Drummond,
é a luta mais vã;
mas, vinda a manhã, estou derrotado.
Pois sou bom de boca p'rá beber:
Dispenso estilos, ignoro os ritmos,
pois só cuido de palavras nesta creche que sejam órfãs
de pai, mãe, PALOP's ou ONG's:
não estou atrás das filhinhas d'Aurélio
ou das sobrinhas do Pasquale Cipro Neto!
Quero frases putas, declarações vadias,
pronominais porras-loucas
e as hippies fedorentas de baixo calão.
Pois delas, serão o Reino dos Céus,
creiam-me! Ou não.
Só preciso mesmo é que minhas palavrinhas gostem de mim...
pois, delas, cuido com esmero e operância
mesmo que, filhadaputamente,
elas me abandonem na hora
em que mais preciso:
quando a cabeça de baixo e o coração de dentro
traduzem-me, impiedosamente...
Quando a cabeça de baixo não pensa, as palavras somem...
ResponderExcluirMelhor seria não ter cabeça.
Melhor seria ter somente palavras.
Melhor seria nem ter o que falar!
Melhor seria...
Apenas tomar um trago alí, na esquina e sucumbir-se em sua própria embriaguês; melhor seria!
Melhor seria não ser, apenas ter!
Uma cabeça para pensar e agir...melhor seria!
Melhor seria nem ter intelecto mas,qual?
Melhor seria nem ser.
Melhor seria vadiar a noite toda e ronronar!
Para ter o prazer de somente, amar!
eu estou aqui aplaudindo esta enxurrada de palavras!!!Que palavras maravilhosas juntaste aqui!grande abraço
ResponderExcluirMande esta modéstia às favas, meu amigo. Você é como um guardião e elas lhe servem à hora que desejar. E nos servem para deleite. Fantástico, amigão!
ResponderExcluirLi um pequeno diálogo de Drummond com Guimarães Rosa e me lembrei de você. Claro que sua escrita é diferente da dele, mas o que importa é sua infinita e adorável capacidade criativa como o Rosa. (1961, O OBSERVADOR NO ESCRITÓRIO)
Ele para Drummond:
- Não quero ser classificado como escritor de determinado tipo. Procuro variar o mais possível de técnica e gênero...
- A lingua portuguesa ficou completamente estragada pelo uso, meu caro. Suas belezas se transformaram em lugares comuns. Por isso não posso mais usá-la como fazem os outros.
Abração. Paz e bem.
...pois eu adoro quando as palavras "filhadaputamente" se calam e só fala o coração. Aí, e só aí, as grandes verdades são ditas. Beijos saudosos...
ResponderExcluirPalavras marotas, orfãs, traidoras, palavrinhas que gostem de ti? Pois elas gostam tanto que se juntaram neste fantástico texto, só para dizer que o Jorge é o melhor amigo delas e que as trata com tanto zêlo, que elas jamais o deixarão, mesmo que em alguns momentos elas "filhadaputamente" se calem.
ResponderExcluirMeu queridíssimo amigo, este texto é simplesmente admirável.
Um beijo
Como é gostoso ler você, Jorge... rs Você é terrível e fantástico! Uau! "quando a cabeça de baixo e o coração de dentro traduzem-me, impiedosamente..."
ResponderExcluirvim ler de novo...fihadaputamente só você consegue rsrs
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